Empresário diz que rebaixou 42 times e lucrou R$ 300 milhões com manipulação de resultados
- fabianohennemann
- 8 de out. de 2024
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Rogatto é apontado pelo Ministério Público do Distrito Federal como o líder de um esquema que utilizou o time Santa Maria para realizar apostas esportivas ilegais
William Pereira Rogatto, apontado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) como o líder de um esquema que manipulou resultados no Candangão deste ano usando o time Santa Maria, confessou nesta terça-feira sua participação em um esquema ilegal de apostas esportivas. A declaração foi feita durante uma reunião da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, no Senado.
Rogatto revelou também ser conhecido como o "Rei do Rebaixamento" e afirmou que sua atuação já levou ao rebaixamento de 42 equipes no futebol brasileiro, incluindo o Santa Maria, que terminou na última posição da primeira fase do Candangão em 2024. Durante seu depoimento, Rogatto declarou ter lucrado cerca de R$ 300 milhões com a manipulação de resultados.
Por residir fora do Brasil, William Pereira Rogatto participou da reunião da CPI através de videoconferência. Anteriormente, ele havia sido convidado a prestar esclarecimentos, mas não compareceu, nem remotamente. Diante disso, os senadores optaram por aprovar um requerimento de convocação, o que obriga a pessoa a participar.
Esta não é a primeira vez que o nome de Rogatto é associado a escândalos de manipulação de resultados no futebol. Em 2020, ele foi investigado por tentativa de manipulação de jogos na Série A3 do Campeonato Paulista.
''Rebaixei 42 times e sou conhecido como rei do rebaixamento, mas não dá para ganhar dinheiro sem rebaixá-los. Não estou matando ninguém, roubando ninguém, o sistema é falho. Estou indo contra o sistema. A criação da máquina me favoreceu, encontrei a brecha”, declarou.
Gestor do Santa Maria, clube participante do Campeonato Candango, o empresário admitiu ter utilizado a estrutura da equipe para manipular resultados das partidas.
'(Sou) Réu confesso, totalmente. Comecei a trazer jogadores de nome, mostrando para ela (Dayana Nunes, presidente do Santa Maria) que eu iria fazer um excelente campeonato. Daqui a pouco, eu falei que os jogadores meus de nome não tinham condições de ir, mas que ia dar tudo certo. E, infelizmente, eu vim a rebaixar o Santa Maria. Desculpa, mais uma vez, peço perdão para as pessoas'', seguiu.
Rogatto cita Textor
Impressionados com as revelações feitas por Rogatto em seu depoimento desta terça-feira, os senadores chegaram a oferecer medidas protetivas, como delação premiada e inclusão no programa de proteção a testemunhas. No entanto, Rogatto expressou dúvidas sobre a eficácia dessas medidas para garantir sua segurança, caso ele decida revelar tudo o que sabe.
Diante disso, os senadores se comprometeram a viajar para Portugal, onde Rogatto reside, com o objetivo de obter mais informações e avançar na investigação conduzida pela comissão.
Durante seu depoimento, Rogatto mencionou o nome de John Textor, proprietário da SAF do Botafogo, que já havia feito denúncias sobre a manipulação de resultados em partidas do Brasileirão nas edições de 2022 e 2023.
— Eu te garanto que o John Textor não está totalmente errado. Chamam de louco, ele não é tão louco assim.
Presidente afirmou que é pouco provável que o Santa Maria consiga o acesso
Nesta terça-feira, a presidente do Santa Maria, Dayana Nunes, também prestou depoimento à CPI, embora de forma mais breve que Rogatto. Emocionada, ela explicou que havia cedido os direitos do clube a William Rogatto para que ele gerisse o time durante a temporada. Na época, Dayana estava focada nos cuidados do marido, Erivaldo Alves, então presidente do Santa Maria, que se recuperava de um acidente vascular cerebral.
De acordo com Dayana, a maneira como Rogatto atuou a fez sentir-se confiante de que o Santa Maria permaneceria na elite distrital, permitindo que ela e seu marido pudessem retomar a gestão do clube em 2025 sem maiores preocupações. A mandatária explicou que o acordo entre eles previa que Rogatto ficaria com o dinheiro referente à vaga na primeira fase da Copa do Brasil de 2025. Para isso, o clube precisaria chegar à final da competição local, o que não aconteceu.
— Se eu não apresentasse o meu time na data certa, ele cairia automaticamente, e era o meu maior medo naquele momento era o Santa Maria cair. (...) Mas a minha maior dor é saber que ele não se compadeceu de uma pessoa que está em cima de uma cama, ele não se compadeceu de uma mulher que está ali tentando levar tudo — lamentou.
Dayana revelou que ainda sofre com o rebaixamento do clube, que precisará chegar à final da Série B local em 2025 para retornar à elite do futebol regional. Contudo, ela considerou essa meta praticamente impossível, devido ao orçamento muito limitado do Santa Maria para a competição.
Antes dos depoimentos realizados nesta terça-feira, a CPI já havia aprovado requerimentos para convocar mais testemunhas. Entre os nomes que serão ouvidos estão Bruno Tolentino, tio do meio-campo Lucas Paquetá, investigado por sua suposta participação em um esquema ilegal de apostas no Campeonato Inglês, e a influenciadora digital Deolane Bezerra, que é suspeita de envolvimento com uma casa de apostas investigada por crimes contra a economia popular e associação criminosa.
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